terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Poesia de Desocupados



Morava eu por longas horas em doce colchão
com meus sonhos cobertos de jujubas e chantili
Quando aquele pequeno ser grávido de duas pilhas AA
começou a berrar nos meus ouvidos
pedindo um tapa, um bofetão

Coloquei-me em posição vertical
descontando poucos graus de minha coluna enferma
dentro de mim a fome era tamanha
que o vácuo em meu estômago
levou meu coração próximo a minhas entranhas

Como quem vai a caça
matei seis laranjas em meu copo
e um pobre pão fiz em dois
enfeitando com queijos e patês
devorando sem piedade até a fome se render

Era um dia ao gosto das bruxas
banhado em choro de anjos
o céu fingia não saber
a chegada das cores na TV

A TV também parecia desistir de tudo
Talvez estivesse dormindo
ou tenho um sonho recorrente
cheio de produtos inutéis e caros
que parecem mais fundamentais
a cada repetição

O dia me cochichava baixinho
Que nada ali se tinha pra ver
Que era um dia tolo e vazio
Um daqueles que eu poderia esquecer

Ouvi a cama cantarolando arteira
entre risos e possíveis afagos
me convidando, falando de saudade
Eu como uma criança obedeci
sem culpa alguma, pelos meus atos

Resumo


Eu estava dormindo
tocou o despertador
eu levantei, estava com muita fome
tomei um suco e um pão
Mas o dia estava feio,
chovendo e o céu estava cinza
Na TV só programas repetidos
e comerciais
Voltei para a cama.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Salada Russa


Quando eu era menor, era comum a pergunta: -Você é descendente do quê?

Lembro que um amigo meu ,era, metade italiano metade espanhol, outro era metade italiano metade português, e que tive amigas "japonesas" que não tinham misturas e que eu dizia que elas
eram de raça, já eu sempre fui vira-lata. Até hoje se eu tiver que explicar, não vou
conseguir, quantos por cento de quê eu sou. Sei que tenho italiano, português,
espanhol, francês , parece que tenho inglês, judeu e russo, e o Campregher que eu
dizia ser alemão, virou austriaco, suiço, italiano e voltou a ser alemão... Por isso não
sei, fica mais fácil dizer o que não tenho.

Minha avó paterna tinha os dois pais, (meus bisavós) filhos de italianos, e é ainda, esse
o lado da família que tenho mais contato. Eu não falo alto e gesticulando e nem gosto tanto
de macarrão, mas esse pedaço da família tem boas histórias então resolvi contar uma aqui, do
jeito que me lembro, com direito a erros e um pouco de liberdade artística, rs.


Há mais de 70 anos atrás meu bisavô José, casou com minha bisavó Dária. Ele era um
"italiano do norte" alto, loiro de olhos azuis, falante e animado. Minha bisavó era uma
"italiana do sul" morena, baixinha e quietinha, quem já assistiu o Quatrilho vai ter mais
facilidade em imaginá-los. Pois bem, os dois tiveram um bom casamento, se davam bem e tinham
filho atrás de filho, foram 11 no total,todos com menos de dois anos de diferença.

Se tem algo que este lado da minha família não gosta são os portugueses, óh os portugueses, como são ruins, maldosos, trapaçeiros...
se te chamarem de português, é sinal que no MÍNIMO te acham burro.


Uma parte legal de ter vários filhos, deve ser escolher os nomes, é uma das melhores partes, demorei meses para escolher o nome do meu, e ainda gosto de pensar em nomes para bebês, nomes para meninas, meninos, nomes bonitos, diferentes, com um significados interessantes.

Hoje quando penso em um nome legal, entro na internet e busco na hora o significado origem e tal, quando eu estava grávida dei uma procurada em um livro de nomes, imagino que minha bisavó contava com bem menos recursos na época.


A primeira filha chamou Dirce, minha avó Lourdes, teve Adail, Luci, Darci, Gelson, Gilse e assim foi indo, até o nono filho.
Nasceu um menino, e minha avó quis por o nome de de Vitório Carlos, mas quem registrava era meu bisavô. Não sei bem o que aconteceu, se ele havia bebido um pouco, ou o quê, mas quando levou o menino para registrar, esqueceu o nome, forçava para lembrar e nada, então pediu ajuda ao escrivão, como é mesmo o nome daquele rei da Itália? -Vitório Manuel, respondeu o moço.
-Isso! Vitório Manuel Roncada, pode registrar.


Meu bisavô chegou em casa e minha bisavó viu a certidão, não imagino a briga que foi, mas dizem que foi das grandes! Mas não deve ter sido tão ruim assim, se tiveram depois desse mais dois filhos. Até hoje meu tio é o Carlos, ou Carlinhos, contei a pouco tempo essa história para o meu primo e ele nem desconfiava que o nosso tio na verdade é Manuel. Onze filhos de dois italianos que tem pavor de portugueses, lá no canto escondidinho, um Manuel!

Na foto meus bisavós.